sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Adeptos de sofá


O seguinte artigo de opinião chegou-me por email (recuso-me terminantemente a visitar sequer o site deste pasquim). Apesar de ser escrito por uma lampiã, concordo com o ponto essencial (diga-se de passagem, como ponto totalmente acessório, que pelas imagens que vi até pensei que tivessem estado muito menos no galinheiro no jogo em questão):

'Grande parte do País padece de uma doença que desconhece. Clubite aguda. Doença essa que não pressupõe que o enfermo goste de futebol. Na verdade, bem antes pelo contrário.
A clubite aguda, um pouco como a doença bipolar, manifesta- se em estados de euforia e de depressão. Um dia está tudo bem, no outro é só trevas. Talvez estarei a exagerar (estou, claro, é uma coisa que gosto de fazer), mas na terça-feira tivemos um grande exemplo de clubite aguda no Estádio da Luz, manifestada na sua pior forma. Num jogo de Champions, frente a uma das boas equipas alemãs, apareceram 17 mil pessoas. O jogo não contava para nada? Era dia da semana? Estava frio? Sim, para tudo. Aliás, aquilo não era bem frio, era como se um icebergue estivesse a correr na minha direção. Mas não me parece que isso seja desculpa para tal debandada. 
Aqui está a prova que nós, portugueses, não gostamos de futebol. Gostamos de clubes e, normalmente, só gostamos deles quando ganham. As clareiras que na terça- -feira se viram nas bancadas do Estádio da Luz dão um ar muito pobre ao adepto português, ainda para mais numa competição transmitida a nível planetário. E o que terão pensado os adeptos alemães presentes, eles habituados a não haver sequer uma cadeirinha à vista a cada jornada da Bundesliga! Nem é preciso ir mais longe.O Borussia Dortmund vai passeando indigente pelos últimos lugares do campeonato. O estádio? 81mil pessoas, sempre. Para o bem e para o mal. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da vida deles.' LÍDIA PARALTA GOMES Jornalista do diário ‘Rascord


Bem, a situação no nosso FCP (que é o que me interessa) não é tão diferente como isso da do slb ou do SCP: quando a coisa corre bem há grandes clareiras nas bancadas, e quando corre mal - o que é muito mais raro connosco, felizmente - é um autêntico deserto. 

A crise económica é usada frequentemente como desculpa para as fracas assistências. 

Ora, antes de mais, reparei que quem tem lugar anual (e é a maioria do estádio) nao tem desconto por não aparecer... mas temos muito jogos em q só para aí metade desses lugares anuais, ou pouco mais, é que estão ocupados (muitos deles por familiares ou amigos do dono do lugar). Logo por aí a bota não bate com a perdigota.

Em segundo lugar, com crise ou sem crise (basta olhar para as assistências de há 10 anos atrás, em que as assistências eram semelhantes), os estádios portugueses estão regra geral vazios ou meio-vazios (aliás, há 6 anos atrás já eu falava disso aqui no RP). O problema é portanto crónico, acima de tudo.

Em terceiro lugar, se é verdade que o poder de compra (mesmo sem crise) não é equiparável ao que se vê numa Alemanha, também é verdade que:

1) os bilhetes/lugares anuais em Portugal são muito mais baratos

2) o nosso estádio tem uma capacidade muito menor do que os 80mil do B. Dortmund, e por acaso até temos mais adeptos a menos de 30mins do estádio do que o B. Dortmund (e da esmagadora maioria dos «tubarões» europeus).

3) mesmo que muitos portistas não tenham condições financeiras para ir ao estádio (ainda mais hoje em dia), certamente pelo menos metade dos adeptos devem tê-la. Ora 50% que seja dos portistas no Grande Porto é equivalente a 10x a capacidade do Dragão. Repito: 10 VEZES.

Finalmente, vejo pessoal que também se desculpa com o tempo para não ir ao estádio; curiosamente não vejo ninguém com essa desculpa em países com um clima muito mais inclemente.

Haverá sem dúvida outros factores que servem de atenuante (como os horários, por exemplo; já no extremo oposto as condições de acesso por transporte público ou privado e estacionamento são do melhor que há no Mundo), mas concluo que os adeptos em Portugal fundamentalmente são mais «espectadores» que propriamente «adeptos». A experiência pessoal que tenho em Inglaterra e Alemanha (directa- ou indirectamente em conversas com os muitos amigos que lá tenho) só reforça essa percepcão.

PS - aparte: o que é indiscutível é que, até ao fim da época, TODOS os adeptos do slb vão ser meros espectadores de sofá no que à Europa diz respeito.

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